FNAMzine #4 - A voz do SNS - Flipbook - Page 12
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Relatos SNS MGF
Ser recém-médico
de família em Leiria
Seria de esperar que uma cidade portuguesa de média de dimensão como Leiria, em 2025 e em plena
era digital, seria um contexto ideal para um jovem médico de família (MF) trabalhar. Seria, mas não é.
Atualmente, no concelho de Leiria, onde trabalho, o número de utentes sem MF é de 35%, ou seja, mais
do que um em cada três utentes não têm MF.
vezes, a marcação de consultas programadas fora dos tempos desejáveis.
A pressão para ver utentes fora do horário normal de trabalho é uma constante,
e a resposta quase inata e automática do
médico, especialmente se perante utentes particularmente frágeis, infelizmente,
é “sim, eu vejo”.
Não devia ser assim.
RAFAEL HENRIQUES
MEDICINA GERAL E FAMILIAR
Tenho a sorte de trabalhar numa USF com
uma equipa completa e motivada, mas,
ainda assim, a sobrecarga de trabalho é
exasperante e, por muita boa-vontade
que haja, não se consegue fazer milagres. Quando se trabalha na consulta de
atendimento complementar, percebe-se a elevada procura desta consulta por
utentes do concelho sem MF que, muitas
vezes não tendo doença aguda que justifique a sua observação, procuram este
tipo de consulta. Ainda assim, é compreensível. Seria aqui ou no Serviço de
Urgência (SU) do hospital - as chamadas
“falsas urgências”.
Não devia ser assim.
O dia-a-dia de trabalho de um MF é um
autêntico contrarrelógio. Temos listas de utentes sobredimensionadas e,
desta forma, a capacidade de resposta e a acessibilidade estão necessariamente condicionadas, explicando, por
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Consequentemente, o trabalho administrativo e burocrático acumula-se e atrasa
a devida hora de saída e, não
tão poucas vezes, em várias
horas. A pressão para garantir rápida resolutividade é
real e os indicadores de desempenho não ajudam.
Não devia ser assim.
Em Leiria, já há muitos utentes com receio
de ir ao SU pelo elevado tempo de espera
ou com medo de serem vistos de forma
inadequada, pelo elevado número de utentes
para tão poucos médicos