FNAMzine #4 - A voz do SNS - Flipbook - Page 13
µ 13 | FNAMZINE | maio 2025
Relatos SNS - MGF
O cansaço diário, tanto físico, pelo
quase sempre interminável trabalho,
como emocional, pelas histórias de
vida difíceis que nos assaltam o gabinete diariamente, aliado ao merecido direito de gozo de tempo para
vida pessoal e familiar de qualidade,
condicionam francamente o tempo
necessário para atualização de conhecimentos.
Não devia ser assim.
O ato de uma consulta médica é complexo e exigente, e a imperiosidade
de registos clínicos de qualidade e
do preenchimento dos mais variados
programas de saúde cria uma barreira quase intransponível entre médico
e utente, dificultando o desenvolvimento de uma relação médico-utente rica e empática. Tal necessidade
não é melhorada pela existência de
uma multiplicidade de programas
informáticos, alguns redundantes, e
quase todos eles lentos, pouco amigos do utilizador e não interoperáveis entre si.
Não devia ser assim.
Devia haver, sim, médico de família para todos os utentes e para isso
são necessárias carreiras médicas atractivas e salários dignos
Não devia ser assim
A qualidade da formação das próximas gerações
de médicos, sejam alunos de medicina, médicos
internos de formação geral ou de formação
específica, é clara e negativamente impactada por
Em consulta, recorrentemente, há
falta de material, seja material clínico (medicação, contracetivos, etc...)
ou simples material de gabinete
(papel, marcadores, etc...), carências
essas minimizadas por compras por
parte dos próprios profissionais.
Não devia ser assim.
Tudo isto até poderia ser suportável,
se houvesse respostas de proximidade, rápidas e efectivas nas mais
variadas valências. Um MF, perante
determinadas situações, tem que referenciar um utente ao SU, a especialidades hospitalares, a consulta de
nutrição, psicologia, serviço social
e outras terapias (ex.: reabilitação,
terapia da fala, etc.), mas a carência
transversal de profissionais em todo
o SNS atrasa a avaliação dos utentes ,
tudo o anteriormente descrito, e esta realidade
não é o melhor convite para atrair e fixar futuros
médicos no SNS.
Não devia ser assim.
o diagnóstico e o tratamento de muitas patologias, que beneficiariam de
um tratamento atempado. Em Leiria,
já há muitos utentes com receio de ir
ao SU pelo elevado tempo de espera ou com medo de serem vistos de
forma inadequada, pelo elevado
número de utentes para tão poucos
médicos.
Não devia ser assim.
Devia haver, sim, médico de família
para todos os utentes e para isso são
necessárias carreiras médicas atractivas e salários dignos; possibilidade
de conciliar a vida pessoal e familiar
com a profissional, sendo necessária a redução da lista de utentes; ter
tempo adequado na agenda para
trabalho não clínico, devendo-se
reduzir a burocracia e agilizar proce-
dimentos administrativos; haver um
processo clínico electrónico do utente e garantia de interoperabilidade
entre diferentes programas informáticos para se dedicar mais tempo ao
utente; haver material clínico e não
clínico suficiente para garantir um
trabalho adequado; haver reforço de
todas as carreiras da saúde para melhor e mais rápidas referenciações; e
haver tempo no horário para formação das gerações de médicos vindouras e se garantir o futuro do SNS.
Assim, percebe-se que a vida de um
recém-MF numa cidade como Leiria
em 2025 não é a melhor. Depende
de todos nós mudar esta realidade.
O trabalho sindical é essencial para
garantir a mudança necessária para
valorizar a carreira médica e fortalecer o SNS.
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