FNAMzine #4 - A voz do SNS - Flipbook - Page 26
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Grande Entrevista
“O ÁLCOOL ERA MAIS BARATO QUE A ÁGUA”
FZ: Que nome se deu a esses locais?
JG: Eram os Centro de Apoio a Toxicodependentes (CAT). No início dos anos 90 foi criado o Serviço de Prevenção e Tratamento da Toxicodependência (SPTT), que congregava toda a resposta existente até então, incluindo os CEPD
que transitam do Ministério da Justiça para a
Saúde. Entramos num movimento de expansão
e de aumento efetivo da nossa capacidade de
resposta. Nessa altura houve um investimento
grande, porque o Governo percebeu que a situação estava a ficar muito complicada.
FZ: Em que altura percebeu que a criminalização era parte do problema?
JG: O que nos distingue do que aconteceu noutros países, é que, este problema foi transver-
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sal a toda a sociedade, aconteceu em todas as
camadas sociais. A certa altura quase todas as
famílias tinham um caso de toxicodependência. Essa transversalidade foi favorável ao desenvolvimento de uma política progressista e
inclusiva.
FZ: Se fosse limitado às margens era mais fácil
ignorar?
JG: Exato. Se o toxicodependente está só na
favela, não se vê. O resto da sociedade rejeita,
está por assim dizer, nas tintas, não é um problema. Mas quando começaram a aparecer famílias da classe média a falar com o padre ou
o médico, a dizer que “o filho não é um criminoso, mas um doente que precisa de ajuda”, a
visão da sociedade mudou.
O que nos distingue
do que aconteceu noutros
países, é que, este
problema foi transversal
a toda a sociedade,
aconteceu em todas
as camadas sociais.
A certa altura quase
todas as famílias
tinham um caso de
toxicodependência