FNAMzine #4 - A voz do SNS - Flipbook - Page 33
µ 33 | FNAMZINE | maio 2025
A abertura desenfreada de Escolas Médicas
é um dos pensos-rápidos. Não só não vai resolver o
problema do SNS, como não é rápido, adiando,
no mínimo, 11 anos a atração de médicos para o SNS
Ao longo dos últimos anos
temos assistido à utilização
de pensos rápidos para
tratar problemas sistémicos.
Uma falência progressiva do
serviço sem uma adequada
gestão a longo-prazo
A força dos movimentos juvenis é inegável e a
história mostra que quando os jovens têm a palavra, fazem-se ouvir e as suas reivindicações
ecoam através das futuras gerações, através da
visão própria que possuem. Assim, é essencial
que as suas perspetivas sejam incluídas nos
fóruns de discussão nacionais e internacionais
e que tal seja feito de forma significativa, com
um verdadeiro reconhecimento dos contributos,
bem como um esforço para a diminuição da abstenção nas camadas mais jovens.
Em terceiro lugar, destaco a coesão territorial.
Num país como Portugal, é difícil por vezes compreender duas problemáticas interligadas: o
centralismo e a inacessibilidade a alguns recursos em determinadas regiões.
A existência de uma rede de transportes adequada e de condições habitacionais dignas e acessíveis são fatores essenciais para que seja possível
ter um país verdadeiramente coeso. Sem isto, um
estudante de Medicina que pretenda realizar um
estágio numa região menos sobrecarregada do
ponto de vista formativo ou um profissional de
saúde que tenha interesse em fixar-se em zonas
cronicamente afetadas pela escassez de cuidados, não têm as ferramentas que lhes permitam,
não só poder livremente definir o seu percurso,
mas também contribuir para colmatar problemas crónicos do país.
E diretamente relacionado com as condições para a frequência do Ensino Superior realço o quarto tópico que necessita de reforço na próxima
Legislatura: a ação social.
Em 2024, a ANEM assinou um compromisso com
o Conselho de Escolas Médicas Portuguesas que
evidencia condições essenciais para a frequência do curso de Medicina. Se é verdade que é
transversal a todo o Ensino Superior, também é
verdade que Medicina traz problemas que são
particulares, desde o acesso a materiais como
EPI e estetoscópio, à necessidade de transporte
para diferentes locais de estágio e, em alguns casos, o pagamento de dois alojamentos.
Só assim é permitido que o Ensino Superior seja
acessível para todos os que nele pretendam ingressar, garantindo a igualdade, inclusão e não
discriminação - a quinta área que o próximo Governo deverá desenvolver.
Não se devendo cingir à formação médica, é evidente que a humanização dos cuidados de saúde
e a não discriminação são tópicos que têm de fazer parte da formação médica. De facto, a parca
dedicação de horas dos currículos à inclusão e
aos cuidados a pessoas LGBTQIA+, migrantes e
pessoas com deficiência, deve ser alvo de reflexão não só pelas Escolas Médicas, mas também
pela Tutela que deve garantir uma abordagem
transversal na sociedade, que permita uma vivência na sua plenitude dos direitos de cada um.
Em sexto lugar, mas transversal a todos os outros,
reside a aposta num desenvolvimento estratégico e sustentável. Desde uma maior aposta na investigação e na acessibilidade destas oportunidades a estudantes, ao investimento no combate
às alterações climáticas, é na ciência e nas políticas baseadas na evidência que o futuro tem que,
necessariamente, assentar. Apenas com uma
valorização das carreiras científicas e melhor articulação com as carreiras clínicas e de docência,
será possível assegurar o progresso.
Os estudantes de Medicina farão o seu papel ao
trazerem para a mesa da discussão os temas prementes da atualidade aos partidos políticos e à
Tutela. Todos temos um papel na construção de
um serviço de saúde mais forte que forme médicos prontos para os desafios de amanhã e a
ANEM está de portas abertas e pronta para colaborar e trabalhar as soluções necessárias. O
futuro está nas mãos de todos nós e não pode
continuar a ser adiado.
Os estudantes de Medicina farão o seu papel
ao trazerem para a mesa da discussão os
temas prementes da atualidade aos partidos
políticos e à Tutela
µ FNAMZINE | PAULO SIMOES PERES