FNAMzine #4 - A voz do SNS - Flipbook - Page 34
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Internacional Alemanha
SUSANNE JOHNA presidente do Marburger Bund,
sindicato alemão que representa cerca de 150 mil médicos.
A POPULAÇÃO É SOLIDÁRIA
COM OS MÉDICOS
FNAMZINE (FZ): Como descreve a realidade médica
na Alemanha?
Susanne Johna (SJ): O Serviço de Saúde na Alemanha
é altamente desenvolvido, mas está cada vez mais
sobrecarregado. Há escassez de profissionais, especialmente médicos em áreas rurais. Enfrentamos
restrições financeiras cada vez maiores. Tememos
que os hospitais que oferecem cuidados básicos
possam ser eliminados devido à falta de financiamento, especialmente porque temos uma sociedade envelhecida e com multi-morbidades crescentes.
FZ: Que respostas têm sido dadas ao nível sindical?
SJ: O Marburger Bund, que representa principalmente médicos hospitalares, defende melhores
condições de trabalho, salários mais altos e mais
recursos para as instituições de saúde. Estamos
a pressionar por reformas para reduzir a carga de
trabalho, melhorar a formação especializada e garantir uma remuneração justa para os médicos. Somos o único sindicato só de médicos na Alemanha,
com mais de 146.000 membros. Através dos acordos
coletivos temos capacidade para influenciar diretamente as condições de trabalho para melhorar o
equilíbrio entre vida profissional e pessoal dos médicos. Desde 2007, lutamos pela conciliação entre
trabalho e vida familiar. Conseguimos muito, mas
ainda há muito a ser feito.
FZ: Na Alemanha, existe um serviço ou sistema nacional de saúde? A rede pública de saúde cobre toda
a população?
SJ: A Alemanha tem um sistema de seguro saúde
(Gesetzliche Krankenversicherung) que é um serviço
universal onde quase 90% dos cidadãos são cobertos por seguro público. Não é um serviço de saúde
totalmente financiado pelo Estado, como no Reino
Unido, mas através de seguros sociais. Há também
um princípio de solidariedade: o valor das contri-
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buições depende do nível de salários. Cobre quase
todos os residentes na Alemanha, 90% da população, embora algumas pessoas optem por seguro de
saúde privado.
FZ: Quais são as áreas mais deficientes e quais funcionam melhor?
SJ: As áreas deficitárias são a escassez de pessoal
hospitalar, unidades de emergência sobrecarregadas e falta de respostas de saúde nas zonas rurais.
Estamos também a sentir os efeitos da mudança demográfica. Mais pessoas estão a aposentar-se, e não
há médicos qualificados suficientes para entrar no
mercado de trabalho.
FZ: Quais as questões que mais preocupam os médicos alemães?
SJ:O excesso de trabalho, o subfinanciamento dos
hospitais e a crescente carga administrativa. Os médicos hospitalares gastam em média cerca de três
horas por dia em tarefas administrativas. Há uma
necessidade urgente de alívio nessa área para que
os médicos possam dedicar mais tempo aos seus
pacientes.
FZ: E a população em geral, quais são as suas principais preocupações?
SJ: O público está preocupado com o acesso a cuidados médicos em tempo útil, sem tempos de espera
excessivos e com qualidade.
FZ: A população apoia as reivindicações dos médicos?
SJ: A população é solidária com os médicos, especialmente quando se trata de melhorar as condições
de trabalho e reduzir a pressão sobre os profissionais. Nos últimos anos tivemos de realizar greves
com mais frequência em hospitais. Houve naturalmente algumas interrupções no atendimento de
Desde
2007, lutamos
pela conciliação
entre trabalho
e vida familiar.
Conseguimos
muito, mas
ainda há muito
a ser feito