FNAMzine #4 - A voz do SNS - Flipbook - Page 35
µ 35 | FNAMZINE | maio 2025
O meu conselho é que permaneçam
apaixonados pelo cuidado ao doente
doentes não urgentes durante essas greves. No
entanto, nunca tivemos a sensação de que as
pessoas desaprovassem as nossas reivindicações. Pelo contrário, frequentemente recebemos apoio. Isso também se deve à forma como
comunicamos. Esforçamo-nos para apresentar
as nossas ideias de forma compreensível
ao público em geral.
FZ: A jornada de trabalho de 35 horas
é uma realidade?
SJ: A jornada de trabalho de 35 horas não é uma realidade, especialmente nos hospitais. A jornada
semanal regular em hospitais é
de 40 horas. Além disso, há horas extras e serviços noturnos
para assegurar os fins de semana. Em média, os médicos
trabalham bem mais de 50
horas por semana. Devido à
elevada carga de trabalho,
cada vez mais médicos optam por contratos a tempo
parcial, reduzindo as suas
horas semanais. A maioria faz isso simplesmente
para garantir pelo menos um dia de folga por
semana.
FZ: Em relação à formação, qual é a situação?
Tanto no nível superior
quanto durante a residência/internato?
SJ: A formação médica é
muito estruturada e de alta qualidade, mas a formação durante o internato pode
ser desafiadora. Os médicos
frequentemente enfrentam
longas horas de trabalho, recursos limitados e altas expectativas
durante os anos de internato e
especialização. Exigimos compromissos claros tanto dos legisladores
como dos empregadores.
FZ: Como funciona a negociação coletiva na saúde?
É respeitada?
SJ: A negociação coletiva é crucial para os médicos na
Alemanha e geralmente é respeitada.
FZ: Sente que os médicos ainda são valorizados pela sociedade? Têm o reconhecimento que merecem?
SJ: Os médicos geralmente são muito respeitados na Alemanha, mas muitos sentem que a apreciação da população não corresponde aos desafios e sacrifícios que o seu
trabalho implica. A opinião pública pode ser solidária,
mas há um espaço limitado para a percepção pública devido à mudança no cenário mediático.
Os tempos de atenção tornaram-se mais curtos, o que
também limita a receção das mensagens. Temos tido
experiências cada vez mais positivas com uma aposta
mais forte nas redes sociais e também desenvolvemos e
melhoramos os formatos dos nossos eventos políticos.
FZ: Como vê o agravamento das relações entre governos
de diferentes nações, que pode intensificar conflitos
militares e económicos?
SJ: O agravamento das relações internacionais pode
realmente afetar a saúde, especialmente por causa das
interrupções nas cadeias de abastecimento, o condicionamento da colaboração em pesquisas internacionais e
o potencial de aumento de tensões nos serviços nacionais de saúde devido a migrações em massa ou à instabilidade política.
O surgimento de crises globais de saúde, como pandemias, também representa um desafio significativo. As
mudanças climáticas afetam cada vez mais a saúde humana em todo o mundo. Por isso, mitigá-las deve fazer
parte de qualquer iniciativa de saúde global, regional e
local.
FZ: Que mensagem costuma transmitir aos jovens médicos?
SJ: O meu conselho é que permaneçam apaixonados
pelo cuidado ao doente, mas que também estejam preparados para se defender e defender os seus colegas. O
sistema precisa mudar, e os jovens médicos devem estar
ativamente envolvidos, seja por meio de sindicatos como o nosso. A Inteligência Artificial vai mudar a forma
como a medicina é praticada de forma abrupta. Os jovens médicos devem estar na vanguarda desse processo. O equilíbrio é crucial, não percam de vista o bem-estar enquanto procuram a excelência na Medicina.
µ FNAMZINE | SUSANNE JOHNA