FNAMzine #4 - A voz do SNS - Flipbook - Page 36
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Internacional Croácia
RENATA ČULINOVIĆ-ČAIĆ Entrevista com Renata Čulinović-Čaić, presidente
do Hrvatski Liječnički Sindikat, Sindicato dos Médicos Croatas, que se bate pelas condições
do trabalho médico, a saúde pública da população e o respeito da contratação coletiva.
“GUERRAS NUNCA
BENEFICIARAM NINGUÉM”
FNAMZINE (FZ): Qual é a situação atual da realidade
médica na Croácia?
Renata Čulinović-Čaić (RČČ): O principal problema,
como em vários países da Europa, é a escassez de
médicos. Após a adesão da Croácia à UE, o número
de médicos e enfermeiros que foram trabalhar no
exterior aumentou, principalmente devido a salários mais altos e melhores condições de trabalho.
Nos últimos anos, a Croácia também tem passado
por uma grande transição geracional, e a substituição dos médicos aposentados não tem sido acompanhada por um número suficiente de jovens a entrar no mercado. Além disso, cada vez mais médicos
estão a migrar para instituições privadas, que oferecem salários e condições de trabalho melhores, sem
sobrecarga de urgências e de trabalho noturno.
FZ: Qual é a resposta sindical dada pelos médicos
croatas?
RČČ: O Hrvatski liječnički sindikat (HLS - Sindicato
Médico Croata), tem defendido ativamente os médicos desde sua fundação, em 1990. As nossas primeiras ações sindicais foram, infelizmente, interrompidas pela guerra na Croácia, durante a qual muitos
médicos participaram.
Após o fim da guerra, no final dos anos 1990, a insatisfação dos médicos com as condições de trabalho e os salários cresceu. Diferentes governos surgiram e passaram, e o que eles tinham em comum
era ignorar os nossos avisos, sugestões e pedidos
para resolver os problemas. Fomos forçados a tomar
medidas concretas, então organizámos greves em
2002, 2003, 2005 e 2013 - nesta última data os médicos realizaram a greve mais longa da história do
Estado croata — durou 58 dias. O governo da época
não quis, ou não soube resolver nossos problemas,
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então interrompeu a greve à força após quase dois
meses, introduzindo uma obrigação de trabalho,
que foi declarada ilegal pelo Supremo Tribunal da
República da Croácia um mês depois. Naquela época condicionaram também, a representatividade
dos médicos croatas, retirando o direito à negociação coletiva. Conseguimos vencer, sobretudo pela
nossa persistência e capacidade de comunicar nos
meios de comunicação social.
FZ: E que vitórias foram mais significativas?
RČČ:No início de 2018, o HLS organizou milhares de
ações judiciais devido ao pagamento irregular de
horas extras, com as quais conseguimos garantir o
pagamento adequado. Recuperámos o direito de
negociar um acordo coletivo de trabalho, que garantiu, em 2023, que os salários dos médicos fossem
aumentados até 50%.
FZ: Na Croácia, existe um serviço ou sistema nacional de saúde? A rede pública de saúde cobre toda a
população?
RČČ: Sim, todos os cidadãos croatas estão cobertos
pelo seguro de saúde nacional, independentemente
de estarem empregados ou não.
FZ: Quais são as áreas que funcionam melhor e pior?
RČČ: Quase todas as áreas são deficientes, e os problemas são igualmente visíveis tanto nos cuidados
primários como nos hospitais. Nos Cuidados Primários há uma grande escassez de médicos de família,
pediatras e ginecologistas, e o Serviço Nacional de
Saúde ainda funciona em parte graças ao trabalho
de colegas aposentados, muitos com mais de 70
anos. Quanto aos médicos hospitalares a situação
varia conforme a região — quanto mais distante o
Quanto
mais distante
o hospital
estiver de um
centro urbano
maior, maior
é o problema
da falta de
especialistas