FNAMzine #4 - A voz do SNS - Flipbook - Page 8
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Sindicato dos Médicos da Zona Sul
O Algarve aqui...
tão longe!
MARGARIDA AGOSTINHO
MEDICINA GERAL E FAMILIAR ,
APOSENTADA, DIREÇÃO SMZS
A região do Algarve é conhecida desde há vários
anos pelas notícias de falta de recursos humanos,
de forma mais evidente no Verão, tanto nos cuidados de saúde primários como nos hospitalares.
Para defender a qualidade do SNS, foi sempre preciso denunciar situações ocorridas e lutar: contra
o atraso na saída do quadro do hospital de Faro
nos distantes anos 80; contra a falta de médicos
nos centros de saúde; pelo pagamento do trabalho
aos fins-de-semana, nomeadamente ao domingo,
quando a Administração Regional de Saúde considerou o domingo como primeiro dia da semana
(no tempo em que o Primeiro-Ministro era Cavaco
Silva) e o gabinete jurídico do SMZS foi fundamental no processo jurídico que decorreu. Esta tratou-se de uma luta conjunta com o sindicato dos Trabalhadores em Funções Públicas, que representava os trabalhadores administrativos dos centros
de saúde envolvidos, durante vários meses. Foram
emitidos avisos prévios de greve aos fins-de-semana para o trabalho nos Serviços Atendimento
Permanentes (SAP) que não estavam abertos 24
horas, mas foi depois da greve conjunta realizada
nos centros de saúde durante a semana da Páscoa
e a ameaça de uma seguinte no Verão que a situação de injustiça ficou resolvida com a aplicação da
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O futuro depende de todos nós
lei e o pagamento do trabalho médico e administrativo nos SAP aos fins-de-semana.
Também foi no Algarve que se iniciaram as primeiras contratações de empresas prestadoras de serviços médicos para os servicos de urgência, com
as discrepâncias salariais conhecidas, apesar de
realizarem o mesmo trabalho que os médicos do
quadro.
Os primeiros investimentos privados vultuosos
no sector da saúde, ancorados no turismo, foram
também no Algarve. Com o tempo, foram esvaziando os recursos nos hospitais públicos, algo
agravado pelo período de intervenção da Troika.
Faro e Portimão
O Algarve foi servido durante vários anos por dois
hospitais públicos, um em Faro e outro de menor
dimensão em Portimão. Em 1999 foi inaugurado
o novo hospital do Barlavento Algarvio em substituição do antigo, em formato Entidade Pública
Empresarial, como forma de atrair mais profissio-
nais para a região, palavras dos dirigentes da época, facto que, como na altura previu a FNAM, não
se confirmou.
Em 2004 dá-se a fusão de Portimão e Lagos e em
2013 dos dois hospitais, Faro e Centro Hospitalar
Barlavento, com a criação do Centro Hospitalar
do Algarve (CHA), decisão muito contestada por
comissões de utentes, autarcas da região e trabalhadores, pela anunciada falta de recursos
humanos e materiais. Com o progressivo encerramento e esvaziamento de serviços, perda de
camas de internamento, fruto da intervenção
da troika e dos cortes no sector da saúde, a região perdeu recursos humanos nas especialidades cirúrgicas, em Anestesiologia e encerra
a cardiologia de Portimão, ficando os serviços “partidos” por mais de 70 km de corredor!
Esta é uma situação que se mantém e levou a uma
diminuição substancial da oferta e à dificuldade
em responder às necessidades do SNS.
Depois de alguma discussão sobre manter ou vol-