FNAMzine #5 - Defender os Médicos do Desgaste Rápido - Flipbook - 10
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Relatos SNS MGF
MGF assim, perdidamente
Sobre a Medicina geral e familiar, o que destacar? A magnitude do que podia ser em todo o País?
As conquistas alcançadas por colegas empenhados, com a criação da carreira médica, do modelo
organizado dos Cuidados de Saúde Primários e das Unidades de Saúde Familiar modelo B?
A MGF como um dos pilares do Serviço Nacional de Saúde?
INÊS VIDEIRA
ASSISTENTE DE MEDICINA GERAL FAMILIAR
NA ULS DE SÃO JOÃO | DIRIGENTE DO SMN
E CONSELHEIRA DA FNAM
A Medicina geral e familiar (MGF), é a
especialidade que garante a proximidade
de cuidados a uma comunidade, às famílias,
às pessoas, em diferentes fases de vida e
de vulnerabilidade, na saúde e na doença,
até à morte ou até à mudança de médico
de família, por opção ou por mobilização
do profissional ou porque este desistiu do
serviço público. E aqui reflito.
Que desânimo, que perda para o SNS!
Colegas esforçados, empurrados para
fora, porque as vagas necessárias de MFG
não abrem em concurso, os concursos de
mobilidade não funcionam, enquanto
esperam integrar a equipa da USF que
os escolhe, longe de casa, não são
respeitados.
E certos de que “a vida são dois dias” e
mais do que vãs promessas, é preciso
reconhecimento e ação de quem lidera,
ao lado, no dia-a-dia, e de quem nos
governa.
Os sucessivos governos não reforçam
o SNS, com os médicos formados num
árduo internato e adotam medidas que
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desviam o investimento para grupos
privados. Perdem as comunidades,
com centros de saúde fechados, ou com
acessibilidade prejudicada por falta dos
médicos necessários. E faltam nos CSP e
nos hospitais. E cresce a frustração dos
doentes e dos médicos de família.
Sou médica de família. Após 15 meses
em Trás-os-Montes, em 2019, “casei”
com uma lista de utentes na USF Saúde
em Família, vivi a pandemia, uma licença
de parentalidade, e vivo a hipocrisia da
Como eu, tantos mais,
insuficientes, a querer ter
esperança num SNS mais forte
e com a qualidade e excel攃Ȁncia
da Medicina que o País merece
e pode ter.
sobrecarga de trabalho que limita o que
aconselho como saudável: o exercício,
a alimentação, o sono, a amamentação,
o equilíbrio entre a vida profissional e
pessoal.
No meio da pressão e responsabilidade,
cansada, mas obstinada (ainda), escolho
a MGF biopsicossocial, com demoras na
resposta, escuto, investigo, aconselho,
alegro-me com as conquistas, choro os
óbitos e festejo os 100º aniversários.
E sou grata aos alunos de Medicina e
médicos recém-formados que estagiam
comigo, numa dinâmica partilhada
de aprendizagem e de prestação de
cuidados aos utentes.
Como eu, tantos mais, insuficientes,
a querer ter esperança num SNS mais
forte e com a qualidade e excelência da
Medicina que o País merece e pode ter.
Viva o SNS.