FNAMzine #5 - Defender os Médicos do Desgaste Rápido - Flipbook - Page 17
µ 17 | FNAMZINE | outubro 2025
FZ: Na fundação do SNS também sentiu a
classe mobilizada?
FP: Sim, mas isso não volta a acontecer.
A mobilização que existiu na sociedade
em prol dos serviços sociais já não existe.
Houve um caminho neoliberal que também afetou o SNS. A saúde deixou de ser
vista como um bem não comercializável.
FZ: Ainda podemos falar num SNS que
cobre todas as necessidades da população?
FP: Não, já não existe. O SNS no Norte é diferente do Centro e ainda mais do Sul. Em
Lisboa e Vale do Tejo para baixo temos um
SNS a duas ou três velocidades.
FZ: E na Medicina Interna, porque é tão
difícil captar médicos?
RC: Porque muitos médicos acabam por
privilegiar áreas mais bem remuneradas.
A Medicina Interna deveria ter um enquadramento diferenciado.
Qualquer dia não há internistas.
FZ: Isso tem agravado a situação das urgências?
FP: Sim, e vai alastrar. Não tarda algumas
urgências vão fechar por falta de médicos.
FZ: Quais os aspetos positivos que destacariam do SNS?
FP: Portugal tem das menores taxas de
mortalidade do mundo. Isso é motivo de
orgulho. Continuo a achar o SNS fundamental, mas é preciso dar passos para evitar a sua desvirtuação.
RC: Reforçar o SNS é essencial.
FZ: Que apelo deixam aos governantes?
RC: Ouvir quem está no terreno. Muitas decisões são tomadas por pessoas desligadas
da realidade.
FP: Diria que o mais importante é a sinceridade. Que digam aos portugueses o que o
SNS é realmente. E que não mintam.
FZ: E que mensagem deixariam aos jovens
que pensam estudar Medicina?
FP: Que ajudar doentes é uma das maiores
fontes de satisfação que se pode ter na vida, mesmo que implique sacrifícios. Sempre encarei a Medicina assim.
Depois da pandemia, percebemos que era preciso mudar.
Estava na altura de bater o pé. Fui uma das que entregou a
minuta de recusa de horas extra para além do limite legal.
Quase conseguimos o que queríamos, mas a situação
política travou. Rita Costa
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