FNAMzine #5 - Defender os Médicos do Desgaste Rápido - Flipbook - Page 24
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Internos Encontro
II ENCONTRO NACIONAL
DE INTERNOS
INFORMAR
AGIR
A mudança no SNS
começa nos seus médicos internos
para
MARIA INÊS PINTO
INTERNA DE HEMATOLOGIA CLÍNICA
NA ULS DE TRÁS-OS-MONTES E ALTO
DOURO E DIRIGENTE DO SMN
µ FNAMZINE | INTERNOS
No passado dia 28 de junho, realizou-se
em Coimbra o 2.º Encontro Nacional de
Internos da FNAM, sob o lema “Informar
para agir”. No ano em que o Serviço Nacional de Saúde (SNS) assinala 46 anos
desde a sua fundação, impõe-se defendê-lo de forma intransigente — e essa
defesa começa por quem representa
uma parte essencial da sua força de trabalho: os médicos internos.
O encontro, marcado pela partilha de
experiências e de ideias, iniciou-se com
a intervenção remota do Dr. Álvaro Cerame, presidente dos Junior Doctors da
União Europeia, que trouxe uma perspetiva internacional sobre os desafios
e lutas diárias dos jovens médicos por
melhores condições de trabalho e por
cuidados de saúde equitativos.
Seguiu-se o contributo da Dra. Rosa Ribeiro, vice-presidente do SMN e Conselheira da FNAM. Com décadas de experiência e testemunha das várias fases
e dificuldades enfrentadas pelo SNS, a
sua intervenção foi um exemplo de resistência e uma reflexão sobre a realidade nacional.
A segunda grande reflexão do encontro
incidiu sobre o burnout. A Dra. Carina
Cabaços, médica psiquiatra em Coimbra, demonstrou como esta condição
vai muito além do indivíduo: é, muitas
vezes, o reflexo de um sistema destrutivo para o trabalhador médico e, em última instância, para o doente. Um serviço
que privilegia números e metas em detrimento de cuidados humanizados, que
recorre de forma sistemática às horas
extraordinárias como “penso rápido”
para colmatar a escassez de profissionais e assegurar escalas.
Durante a tarde, a Dra. Sara Magalhães,
interna de Doenças Infecciosas em Lisboa, dinamizou uma sessão prática
com estratégias e ferramentas para agir
quando os direitos dos médicos internos são ignorados.
O encontro incluiu ainda um momento
social, que permitiu aos participantes
partilhar os seus desafios quotidianos e
refletir em conjunto sobre soluções que
possam travar a degradação do SNS.
Estes encontros são, acima de tudo, um
ponto de partida. Um espaço onde os
médicos internos podem pensar coletivamente em medidas que coloquem
o médico e o doente no centro da equação. Porque um verdadeiro serviço de
saúde não pode ver médicos e utentes
como meios lucrativos, mas sim como os
pilares fundamentais para a prestação
de cuidados de qualidade, acessíveis e
equitativos.
Não nos esqueçamos: a mudança sempre nasceu da força do coletivo. Sozinhos, podemos transformar pequenas
realidades; mas juntos, podemos restaurar o propósito com que o SNS foi
criado — um serviço de saúde para todos, sem exceção, independentemente
da condição socioeconómica.