FNAMzine #5 - Defender os Médicos do Desgaste Rápido - Flipbook - Page 29
µ 29 | FNAMZINE | outubro 2025
Questões como a carreira médica
ainda são pouco discutidas, mas
há colegas que participam em
iniciativas da FNAM.
@YOURI PAIVA
FZ: Já se imagina numa especialidade?
LT: Adoro Medicina Geral e Familiar pelo
contacto próximo e continuado.
Também gostei muito da Obstetrícia, ligada aos direitos das mulheres.
Do passado da História ao presente
da Medicina: o futuro chama-se SNS.
quando, de repente, em vez de um 18 ou
19, recebem um 14.
FZ: Os estudantes estão satisfeitos com
a formação?
LT: O curso é muito bom. Mas com o sistema de Bolonha, muita coisa ficou dependente do estudo em casa.
FZ: E nos estágios, como foi o contacto
com o SNS?
LT: Passei por Lisboa, Porto, interior centro e até pela ilha do Corvo, nos Açores.
Em Lisboa senti de perto a falta de médicos de família. No interior, as distâncias
tornam a vida dos utentes muito difícil.
No Corvo, tive uma experiência muito
positiva, de proximidade e qualidade no
atendimento.
FZ: A fuga de médicos é inevitável?
LT: Ainda não sinto isso de forma muito
forte, mas já ouvi colegas falar em ir para
a Alemanha, sobretudo pelos salários.
Outros querem ficar e defender o SNS.
FZ: Os estudantes estão conscientes dos
desafios laborais?
LT: Creio que não. Devíamos estudar mais
as leis da Saúde e compreender o processo histórico de construção do SNS.
FZ: E a luta sindical, é um tema entre os
estudantes?
LT: Questões como a carreira médica ainda são pouco discutidas, mas há colegas
que participam em iniciativas da FNAM.
FZ: Como encara a relação médico-doente?
LT: Tenho professores que insistem na
importância de falar com os utentes, em
vez de olhar só para o ecrã.
Mas a burocracia ocupa demasiado tempo da consulta.
FZ: O que pensa do aumento de partos
em ambulâncias?
LT: A linha SNS Grávida precisa de ser criticada. Vivemos um momento crítico na
saúde das mulheres. Depois de grandes
avanços desde abril de 1974, tudo isso
está agora em risco. Vemos interesses
privados a pôr o lucro à frente da vida e
do bem-estar das mulheres e dos bebés.
FZ: Os estudos falam de burnout entre internos. Isso já se sente entre estudantes?
LT: Sim. Alguns lidam bem com a pressão,
mas outros precisam de tratamento psiquiátrico ou de uma pausa no curso.
FZ: Com tantos desafios, como mantém a
motivação?
LT: Sei que a realidade é dura e sem ilusões. Mas motiva-me saber que toda a
sociedade precisa de um SNS forte. É inaceitável transformar a Saúde em mercadoria.
FZ: Que mensagem deixa a quem entra
agora em Medicina?
LT: Parabéns, mas não escondo: não será
fácil. É um curso muito exigente, mas devem priorizar a saúde mental, a amizade,
a cooperação e a solidariedade.
Da sala de aula às urg攃Ȁncias: estudantes
de Medicina exigem futuro para o SNS.
µ FNAMZINE | LUIZA TONON