FNAMzine #5 - Defender os Médicos do Desgaste Rápido - Flipbook - Page 31
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Muitos profissionais relatam falta de medicamentos,
de dispositivos de apoio e de tempo para cuidados individuais.
Interna, seguidos por Pediatria, Oncologia e Anestesiologia.
Metade dos médicos trabalha em CP há
mais de cinco anos, e 26% acumulam
mais de uma década de experiência.
A carga horária varia: 41% em tempo integral, 28% entre 20 e 39 horas e 31% menos de 20 horas.
A maioria possui grau de especialista
(66%) e 30% são consultores, refletindo
elevado nível de qualificação.
O inquérito evidencia dificuldades significativas: equipas subdimensionadas,
escassez de recursos humanos e materiais, sobrecarga assistencial e desgaste
emocional elevado.
Muitos profissionais relatam falta de
medicamentos, dispositivos de apoio e
tempo para cuidados individuais, comprometendo a qualidade do acompa-
nhamento e aumentando o sofrimento
de doentes e familiares.
A área profissional dos CP continua pouco valorizada, e conciliar atividade clínica com formação especializada é um
desafio constante, contribuindo para
desmotivação e risco de burnout.
Os médicos identificaram propostas
claras para melhorar a situação:
- Reconhecimento formal das Equipas
Comunitárias de Suporte em CP como
unidades funcionais autónomas;
- Reforço de recursos humanos e materiais;
- Valorização profissional e contratual;
- Maior articulação entre equipas hospitalares, comunitárias e de cuidados
continuados;
- Tempo protegido para formação, in-
vestigação e atividade científica.
Está em discussão pela Ordem dos Médicos a criação da especialidade de Medicina Paliativa, uma das possíveis soluções apontadas no inquérito.
Face à criação potencial de Serviços Integrados de CP e à eventual exigência
de que médicos de família em Equipas
Comunitárias exerçam funções hospitalares, estes profissionais solicitaram
um parecer jurídico. Este concluiu que
um médico de família não pode ser obrigado a exercer funções hospitalares se
o contrato é nos Cuidados de Saúde Primários (CSP), pois tal imposição constitui uma alteração abusiva do local e do
conteúdo funcional do trabalho. Além
disso, as Equipas Comunitárias de Suporte em CP têm enquadramento legal
para funcionar de forma autónoma nos
CSP e não devem ser subordinadas a lógicas hospitalares contrárias à legislação da Rede Nacional de Cuidados Paliativos.
O retrato traçado evidencia uma realidade preocupante: apesar do empenho e
dedicação, os Cuidados Paliativos continuam com falta de recursos essenciais,
colocando profissionais e doentes sob
pressão constante. Garantir condições
atrativas para os médicos, respeitar o
enquadramento legal e valorizar as carreiras são passos fundamentais para assegurar que todos os doentes tenham
acesso a cuidados paliativos de qualidade, conforme previsto na lei e nas recomendações internacionais.
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