FNAMzine #5 - Defender os Médicos do Desgaste Rápido - Flipbook - 31
µ 31 | FNAMZINE | outubro 2025
Muitos profissionais relatam falta de medicamentos,
de dispositivos de apoio e de tempo para cuidados individuais.
de Medicina Interna, seguidos por
Pediatria, Oncologia e Anestesiologia.
Metade dos médicos trabalha em CP há
mais de cinco anos, e 26% acumulam
mais de uma década de experiência.
A carga horária varia: 41% em tempo
integral, 28% entre 20 e 39 horas e 31%
menos de 20 horas.
A maioria possui grau de especialista
(66%) e 30% são consultores, refletindo
elevado nível de qualificação.O inquérito evidencia dificuldades significativas:
equipas subdimensionadas, escassez
de recursos humanos e materiais, sobrecarga assistencial e desgaste emocional elevado.
Muitos profissionais relatam falta de
medicamentos, dispositivos de apoio
e tempo para cuidados individuais,
co m p ro m e te n d o a q u al i d a d e d o
acompanhamento e aumentando o
sofrimento de doentes e familiares.
A área profissional dos CP continua pouco valorizada, e conciliar atividade clínica com formação especializada é um
desafio constante, contribuindo para
desmotivação e risco de burnout.
Os médicos identificaram propostas
claras para melhorar a situação:
- Reconhecimento formal das Equipas
Comunitárias de Suporte em CP como
unidades funcionais autónomas;
- Reforço de recursos humanos e materiais;
- Valorização profissional e contratual;
- Maior articulação entre equipas hospitalares, comunitárias e de cuidados
continuados;
- Tempo protegido para formação, in-
vestigação e atividade científica.
Está em discussão pela Ordem dos
Médicos a criação da especialidade de
Medicina Paliativa, uma das possíveis
soluções apontadas no inquérito.
Face à criação potencial de Serviços
Integrados de CP e à eventual exigência
de que médicos de família em Equipas
Comunitárias exerçam funções
hospitalares, estes profissionais
solicitaram um parecer jurídico. Este
concluiu que um médico de família não
pode ser obrigado a exercer funções
hospitalares se o contrato é nos
Cuidados de Saúde Primários (CSP), pois
tal imposição constitui uma alteração
a b u s i v a d o l o c a l e d o co n t e ú d o
funcional do trabalho. Além disso, as
Equipas Comunitárias de Suporte em
CP têm enquadramento legal para
funcionar de forma autónoma nos CSP
e não devem ser subordinadas a lógicas
hospitalares contrárias à legislação da
Rede Nacional de Cuidados Paliativos.
O re t ra to t ra ça d o ev i d e n c i a u m a
realidade preocupante: apesar do
empenho e dedicação, os Cuidados
Paliativos continuam com falta de
re c u r s o s e s s e n c i a i s , c o l o c a n d o
profissionais e doentes sob pressão
co n s ta n te. G a ra n t i r co n d i çõ e s
atrativas para os médicos, respeitar
o enquadramento legal e valorizar as
carreiras são passos fundamentais
para assegurar que todos os doentes
tenham acesso a cuidados paliativos de
qualidade, conforme previsto na lei e
nas recomendações internacionais.
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