FNAMzine #5 - Defender os Médicos do Desgaste Rápido - Flipbook - Page 6
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Sindicato dos Médicos da Zona Centro
Médicos, uma Profissão
de Desgaste Rápido
A DIREÇÃO DO SMZC
As profissões de desgaste rápido são as
que, devido às suas exigências físicas,
emocionais e psicológicas, aceleram o
envelhecimento laboral e reduzem a capacidade de trabalho ao longo do tempo. Entre essas profissões, a de médico
deve, sem margem para dúvida, ser amplamente reconhecida como uma das
mais desgastantes. É um profissional
que carrega sobre os ombros a enorme
responsabilidade de cuidar da vida humana, enfrenta rotinas exaustivas, longas jornadas de trabalho em serviço de
urgência, interna e externa, unidades de
cuidados intensivos e unidades de cuidados intermédios, assegurando o seu
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funcionamento 24h por dia, 7 dias por
semana e 365 dias por ano, sujeitos à
constante pressão de terem de tomar
decisões rápidas, muitas vezes decisivas e sem margem de erro. Os médicos
estão ainda expostos a agentes biológicos patogénicos, radiações ionizantes e
não ionizantes e gases halogenados.
A imprevisibilidade do dia-a-dia (com
emergências, diagnósticos complexos
e situações de vida ou morte) conduz
a um nível elevado de stress crónico.
Em Portugal, um estudo realizado pela Ordem dos Médicos em 2018 revelou
que 60% dos médicos afirmam sofrer de
sintomas relacionados com burnout, o
que demonstra claramente o impacto
do stress constante nas condições de
trabalho da classe médica.
A somar a isso, o desgaste emocional é
profundo. Situações como lidar com o
sofrimento dos utentes, acompanhar
o luto das famílias e conviver com limitações próprias da medicina são fardos
pesados. O médico precisa manter a
empatia sem se deixar consumir pela
dor do outro, o que exige um equilíbrio
emocional muitas vezes difícil de sustentar por longos períodos. Segundo
uma pesquisa de 2019 da Associação
Portuguesa de Psicologia, 51% dos médicos afirmam que suas condições de
trabalho afetam diretamente a sua saúde mental, com muitos relatando sinais
de exaustão emocional.
A saúde mental dos médicos também é
uma preocupação crescente. Casos de
burnout, ansiedade e depressão são
frequentes na classe médica. De acordo
com o relatório de 2019 da Ordem dos
Médicos, 40% dos médicos em Portugal
apresentam sintomas de depressão, o
que é significativamente maior do que
a média nacional. Além disso, o risco de
suicídio entre médicos portugueses é
uma preocupação alarmante. Embora os
dados sejam mais difíceis de consolidar,
estudos indicam que a taxa de suicídio
entre médicos é superior à da população
geral, com o risco de morte por suicídio
sendo até 70% maior para os médicos.
Além disso, os efeitos do stress sobre a
saúde física dos médicos também não
podem ser ignorados. Num estudo realizado pelo Instituto de Saúde Pública da
Universidade do Porto, foi identificado
que 22% dos médicos apresentam sinais
de hipertensão associada ao stress profissional, e muitos médicos enfrentam
problemas relacionados ao sono devido
aos longos períodos noturnos e escalas
médicas irregulares.
O reconhecimento da medicina como
profissão de desgaste rápido não é apenas justo, é necessário. É fundamental
garantir condições adequadas de trabalho, acesso a apoio psicológico, jornadas
de trabalho compatíveis com a saúde e
uma aposentação digna para quem dedicou a vida à saúde dos outros. Valorizar o médico é também garantir a qualidade dos serviços de saúde como um
todo. Para isso, é urgente que o governo
e as instituições de saúde adotem medidas eficazes de prevenção ao burnout e
ao stress, promovendo a saúde mental e
física dos médicos.
A FNAM tudo fará para que este reconhecimento seja uma realidade.